Maria do Socorro Rodrigues Pereira, nasceu no interior do Pará, numa colônia de hansenianos – portadores de hanseníase, doença também conhecida como Lepra. Seus pais eram portadores da doença e morreram quando ela tinha 2 anos. Como também tinha a doença, foi levada para um abrigo de crianças e adolescentes com hanseníase em Marituba (PA) – um leprosário -, onde ficou isolada por boa parte da infância e da adolescência.
Aos 16 anos, Socorro foi dada em casamento para um homem mais velho, filho da cozinheira do abrigo. Ela se mudou a Belém, capital do Estado, para viver com o marido. Após seis meses de casada, sofrendo maus tratos, decidiu fugir de casa – e ir morar na rua. Em quase 3 anos morando na rua, sofreu tudo o que podia; foi violentada, humilhada, comeu comida do lixo...resistiu ao tráfico e a prostituição.
Nessa época, prometeu a si mesma que, quando conseguisse sair dessa vida, independentemente de ter ou não dinheiro, iria montar uma casa para que outras crianças e adolescentes como ela tivessem um futuro diferente.
A primeira iniciativa foi fundar uma escola de 1º grau, em Ananindeua (PA) e uma creche. As mães abandonavam as crianças na creche, em especial aquelas com deficiência, e Socorro passou a levá-las para casa. Nascia assim, o Lar Acolhedor Tia Socorro.
Conheci Tia Socorro nos bastidores dos Estúdios Globo, qdo produzimos o "Especial Inspiração", programa que apresentei no começo deste ano, a ideia foi homenagear brasileiros com histórias inspiradoras e que estivessem transformando o mundo a sua volta. Ela foi uma das homenageadas, indicada pela Unicef, que a anos já acompanhava seu trabalho.
Foi amor a primeira vista.
Com sua simplicidade, sabedoria popular e força compartilhou no palco seus 2 sonhos ainda não realizados; que eu e Padre Fabio de Melo chegássemos a sua casa de helicóptero e que ela queria simplesmente ver o Papa Francisco, mesmo que fosse de longe. ;)
Missão dada, missão cumprida.
Meses depois deste encontro, partimos eu e Padre Fabio a Mosqueiro, no Pará, e de lá para o Vaticano.
Esta parte da história não vou detalhar, pq esta gravada e algum dia vcs irão assistir.
Vou me ater ao que impacto que teve em minha vida, estes 5 dias ao lado de Tia Socorro na busca pelo Papa.
Vi e vivi lindas histórias pelo Brasil ao longo destes quase 18 anos de Caldeirão, a grande maioria tive o privilégio de compartilhar com vcs pela tv, mas tem coisas que a tv não consegue mostrar com clareza, como por exemplo; o impacto que q vida destas pessoas tem sobre mim.
Sou um ser em transformação constante, inquieto na busca pela minha evolução, uma pessoa sem medo de mudar de ideia, sem medo de rever valores; tudo isso em função dos exemplos altruístas que tenho visto e documentado.
E Tia Socorro foi o maior de todos eles até aqui.
Uma mulher que veio ao mundo para amar ao próximo; nao importando quem fosse, de onde viesse ou suas necessidades.
Uma mulher que acolheu mais de 300 criancas e jovens em seu lar acolhedor.
Uma mulher que dividia o pouco que tinha, mesmo que na sua parte sobrasse o nada, para dar aos filhos daqueles que so foram capazes de dar violência e intolerância.
Uma mulher de Deus.
Tia Socorro se foi ontem a noite, vítima de um mal súbito.
Estou muito, muito triste. Sinto como se tivesse perdido alguém de minha família. E perdi. Nosso encontro foi tão forte e poderoso, que transcendeu os limites da amizade.
Sua história será lembrada, e seu trabalho terá continuidade.
Vida longa ao "Lar Acolhedor Tia Socorro".
Agora, mais do que nunca.
Vá em paz minha querida e amada amiga.
Luciano Huck
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